O tempo, embora invisível, é um dos elementos mais cruciais dentro do sistema jurídico. A justiça, para ser efetiva, precisa se manifestar em tempo hábil. Quando a decisão tarda, perde-se não apenas a oportunidade de reparar um dano, mas também a confiança do indivíduo e da sociedade no próprio sistema. Essa reflexão nos leva a uma pergunta que ecoa desde a antiguidade: é possível considerar justa uma decisão que chega tarde demais?
O filósofo Blaise Pascal dizia que “a justiça sem força é impotente, e a força sem justiça é tirânica”. Podemos acrescentar que a justiça, quando divorciada do tempo, também se torna impotente. O atraso judicial não é apenas um problema burocrático ou estrutural: ele impacta vidas, priva pessoas de direitos e, em muitos casos, torna o resultado da decisão irrelevante. Processos que duram anos — ou décadas — causam danos irreparáveis, seja ao trabalhador que aguarda o pagamento de direitos para sustentar sua família, seja ao cidadão que busca uma indenização por um erro que afetou sua saúde ou dignidade.
O tempo, no Direito, deveria ser um aliado da justiça, mas muitas vezes se transforma em seu maior inimigo. Casos emblemáticos mostram como o atraso judicial pode ser sinônimo de falha no sistema: famílias que recebem indenizações após anos de luta, empresas que quebram enquanto esperam uma decisão favorável ou indivíduos que morrem sem ver a solução do conflito. Quando a decisão chega, resta a sensação de que a justiça perdeu seu propósito, pois a vida já seguiu outro caminho, marcado pelas consequências da espera.
Além disso, o atraso questiona a própria finalidade do sistema jurídico: ele existe para garantir direitos e resolver conflitos, mas o que acontece quando esse objetivo é frustrado pelo excesso de tempo? A lentidão processual, muitas vezes atribuída à burocracia, à falta de recursos ou à complexidade dos casos, expõe um sistema que, em vez de ser um suporte para a sociedade, torna-se um entrave. Em contrapartida, a celeridade, quando aplicada de forma descuidada, pode sacrificar a qualidade das decisões, resultando em injustiças que afetam a vida das pessoas de maneira irreversível.
Neste equilíbrio delicado entre agilidade e precisão, fica a pergunta: qual é o limite da espera? Até que ponto podemos considerar que uma decisão tardia ainda é capaz de fazer justiça? A resposta nos leva a um dilema inevitável: a busca pela eficiência processual deve ser prioridade ou a qualidade da decisão é o que realmente importa? A reflexão final é clara: quando a justiça tarda, ela ainda é justiça ou se torna apenas uma sombra do que deveria ser?